A tarde já ia avançada nas horas.
O Sr. Bernardo cavava com diligência a terra na Quadra 4 do vasto cemitério.
- Já está tarde "Nego Véio", comentei.
- Eu sei, doutor, mas esse enterro é para amanhã bem cedo, e tudo deverá estar pronto.
Aguardei mais um pouco. Pazada após pazada o monte de terra aumentava.
Vários minutos depois o Sr. Bernardo parou de cavar, apoiou o cotovelo no cabo da pá e comentou:
- Estou pensando enquanto cavo. Ainda em 1943, quando eu tinha sete anos a minha mãe foi sepultada aqui no entorno desse local. Os mortos, naquele tempo, eram enterrados diretamente com o caixão no solo.
Coincidência, não? Depois de setenta anos estou aqui a remexer a terra e por um instante, enquanto o senhor fitava o crepúsculo, senti uma lufada de um vento mais quente e um odor de flores.
- Coisas da Vida, velho, eu disse.
- E também da Morte, penso.
23 de fev. de 2017
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