Sob a força bruta da máquina, as paredes do velho galpão da fábrica foram cedendo paulatinamente.
Já no segundo dia de trabalho, os escombros acumulavam-se em uma grande pilha onde estavam tijolos, reboco, telhas, janelas, portas, madeiramento dos telhados.
Ao terceiro dia chegou a máquina até a sala da caldeira.
Após a remoção de todo o entulho amontoado em grandes pilhas no pátio para ser esparramado pelo terreno completando o aterro, vislumbrou-se uma segunda parede atrás da fornalha.
Essa parede dupla, que não podia ser percebida pelo lado de fora do edifício ocultava um espaço e, no piso desse local, havia uma pesada tampa de ferro no chão.
Pararam a máquina e dois operários munidos de pés de cabra, sob o olhar atendo do herdeiro e de outras pessoas que ali se encontravam, buscaram erguer essa tampa de ferro.
Após muito esforço, a peça enferrujada cedeu e foi encostada de um lado.
Logo abaixo, em uma escuridão de muitas décadas, foi possível ver o topo de uma escadaria de alvernaria.
Munidos de lanternas as quais foram providenciadas as pressas, descerram pelos degraus, entre paredes escavadas em alguns pontos sobre a pedra crua.
Após dezessete degraus chegaram até uma pequena sala subterrânea, com pé direito de dois metros. No local havia uma mesa de madeira entalhada, bem danificada pelo tempo, quatro cadeira de espaldar alto, uma luminária à querosene sobre essa mesa e um exemplar do Grimóiro.
Nas paredes, várias prateleira de madeira continham inúmeros recipientes de vidro, de várias cores, alguns ainda com líquidos e pós em seu interior. Entre a umidade e as infiltrações, os danos eram sensíveis e alguns livros que encontravam-se no local deterioraram-se ao simples toque.
Necessário ressaltar que esse cômodo, quadrado, tinha as paredes orientadas pelos quatro pontos cardeais.
Naquele momento o herdeiro decidiu proceder a uma investigação mais minuciosa e a seu pedido foi providenciada uma extensão elétrica para acionar lâmpadas mais possantes.
O exame da sala subterrânea demandou vários dias. Devido a chuva intermitente que começou a cair, uma lona foi providenciada para abrigar a entrada do recinto e uma busca minuciosa procedeu-se no local.
Foram convidados membros do Patrimônio Histórico e da Loja Maçônica local bem como o pároco da Igreja de Santo Antonio.
Na parede Norte do cômodo havia a fórmula de uma bebida, um refrigerante, escrita sobre um pergaminho com tinta nanquim, já bem deteriorado mas possível de ser lido o qual era denominado de "Elixir Beatitudinem", composto de substâncias raras, hoje de difícil obtenção.
Haviam inúmeros livros que dispunham sobre receitas de vinhos, licores, aguardentes, sorvetes, e ainda sobre Esoterismo e Alta Magia.
A iluminação do local era suficientemente provida por vários lampiões e a um canto havia uma larga chaminé que desembocava no alto do telhado, agora destruído, para o arrefecimento do local.
Ao ser removida a pesada mesa de madeira, a qual desmantelou-se em grande parte, havia sob a mesma um outro alçapão, também fechado por uma tampa de ferro.
Após a remoção da tampa, o interior revelou um cofre, também de madeira, e do seu interior foram resgatadas exatas 1953 moedas de libra esterlina em ouro.
Nos meses seguintes, cumpridas as formalidades legais, esse tesouro assim obtido passou para a posse do herdeiro, o que foi de bom alvitre pois que, mesmo destinando várias peças para o museu local, sobrou o suficiente para resolver demandas financeiras que cravavam a propriedade em questão,
Ao final, a conclusão dos historiadores foi de que em tempos remotos, talvez por volta do anos de 1920, 1930, aquele local era uma sala secreta onde iniciados reuniam-se para deliberar sobre estudos religiosos, esotéricos e em criar produtos os quais, uma vez no mercado, pudessem trazer prosperidade financeira e existencial aos seus participantes.
As datas foram apuradas através de livros atas das reuniões, os quais, em que pesem estarem em mau estado, possibilitaram um vislumbre de páginas ainda legíveis.
Todos os documentos foram doados ao Arquivo Histórico para reparação e futura análise.
Como tudo passa, sobre a porta do subterrâneo foi colocada uma laje, procedeu-se ao aterro do local com os materiais da demolição, e ainda mais terra vinda de alhures, e no local onde jaz a antiga fábrica de bebidas, hoje há um jardim e muitas árvores frondosas.