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30 de jan. de 2018

As irmãs

Naquele tempos pretéritos a velocidade da vida era outra.
Os indivíduos moviam-se no cenário do bairro, e em um determinado dia não apareciam para ocupar o seu lugar.
Partiram.
E essa sucessão de vida e morte era acompanhada com pesar e uma certa leniência, pois que, de uma forma ou de outra todos um dia partiriam para o mesmo destino.
As duas velhas senhoras eram conhecidas no bairro antigo como As Irmãs.
Eram remanescentes de uma tradicional família que em outras épocas haviam possuído uma olaria cujos tijolos estavam presentes na maioria das casas daquele setor da cidade.
Um dia a mais velha das duas não apareceu mais na janela do sobrado de esquina onde moravam.
Todos entenderam que a saúde precária da velha senhora a impossibilitava até mesmo aquelas aparições diárias na sacada.
Entre as frondosas árvores, nas sombras frias ao final dos dias, nas chuvas e nos ventos do inverno, nos dias cálidos do verão, nas festas tradicionais da igreja, os indivíduos foram se acostumando com a sua ausência, mesmo porque naqueles intervalos temporais uns e outros foram realizando a derradeira viagem sem retorno pela avenida.
A irmã mais nova, quase uma reclusa também, saia de casa em uma oportunidade ou outra para compromissos no banco e uma ou outra compra de gêneros no pequeno comércio local.
De certa feita, alguns anos depois da última aparição da velha senhora na sacada do sobrado, a irmã mais nova contratou os serviços de um negro velho que em outra oportunidade havia trabalhado na olaria da família até aposentar-se.
Esse senhor passou a realizar as tarefas de ir ao banco, comprar gêneros, ir à farmácia.
Mais um tanto de anos passou e essa rotina ficou consolidada na vizinhança do bairro antigo.
Os moradores mais antigos partiram e os mais novos que ficaram pouca atenção prestavam ao desenrolar dessa rotina cotidiana.
Casas foram demolidas, outras foram construídas, mais árvores foram plantadas, as calçadas antigas em certos pontos estavam tomadas de relva, como estava o jardim do sobrado da esquina, com o negro velho realizando as tarefas rotineiras e as velhas irmãs reclusas viraram uma espécie de lenda, mesmo porque aqueles que poderiam lembrar-se dos tempos antigos não estavam mais por aqui.
Um dia o velho negro não apareceu.
E não apareceu mais dia algum.
A sua ausência foi notada primeiro pelo merceeiro que fornecia gêneros.
Juntamente com alguns outros moradores mais antigos do lugar foram apurar e descobriram que ele também havia partido.
Formaram então uma comissão e dirigiram-se ao velho sobrado da esquina, imerso nas sombras das árvores, e no silêncio sepulcral naquele final de tarde.
Bateram à porta e ninguém atendeu.
Forçaram o portão do jardim que cedeu e aproximaram-se do alpendre.
Uma pesada porta de ferro decorada com vitrais, alguns partidos, dava acesso a uma ante sala.
Essa porta também não estava trancada.
Entraram. O ambiente estava imerso em sombras, com alguma luz baça vinda do poente que filtrava por vidraças empoeiradas.
Os móveis nesse andar estavam todos cobertos com lençóis empoeirado.
Havia a um canto uma grande estante com livros e um piano. O silêncio na penumbra era imenso.
Havia uma escada que levada para o andar superior.
O grupo apertou-se escada acima, chamando o nome das senhoras.
Não obtiveram resposta.
Ao final da escada empoeirada havia um quarto com a porta entreaberta.
Sentada a um canto em uma poltrona estava uma das senhoras, a mais nova, que foi imediatamente reconhecida pelo longos cabelos grisalhos.
Estava muito fraca e provavelmente nos últimos estertores devido aos longos dias de privação.
O grupo de antigos vizinhos antes mesmo de terem tempo para chamarem socorro notaram que em uma enorme cama antiga de dossel, como não se via por aí a uns bons cinquenta anos, estava deitada a outra senhora.
Ao aproximarem-se da cama a perplexidade de todos foi total.
O corpo estava coberto por uma massa de cobertores e mantas.
Sobre o travesseiro o que havia era um rosto totalmente descarnado, uma caveira empoeirada.

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