- ... o seguro deseja mais informações para pagar o prêmio, disse o meu amigo.
- Mas ...
- Burocracia. Mas será necessária a exumação do corpo. Desejam um laudo mais circunstanciado sobre a "causa mortis".
- Depois de tanto tempo ...
- Pois é. Você irá acompanhar-me?
Na data e hora marcados dirigimo-nos ao cemitério.
Estava frio. Os últimos dias haviam sido de chuva e nuvens escuras passeavam pelo céu quando encontramo-nos junto à sepultura.
Haviam além do meu amigo e eu, dois coveiros encarregados da tarefa, o médico legista, o delegado de polícia com a ordem judicial em mãos e dois peritos da seguradora.
O trabalho dos coveiros demorou quase uma hora quando, sob uma chuva fina que voltou a cair, o caixão foi finalmente exposto à luz.
Havia alguma comoção no ar, ainda que houvesse já passado muito tempo da morte.
A autoridade policial determinou a abertura do ataúde para que o legista pudesse examinar o cadáver e dar o seu veredito técnico.
Naquele instante, a surpresa foi geral.
No rosto desfeito, uma caveira, com restos de cabelo, a mandíbula deslocada, entre muitos resquícios de flores, agora cinzentas, úmidas, quebradiças, brilhou por entre os escombros, um luminoso olho azul a fitar o céu!
De minha parte, recordei imediatamente o conto de Garcia Marques no qual, ao fazer a cobertura de exumações que estavam sendo realizadas no porão de uma antiga igreja, ao abrirem o caixão de uma jovem, morta quase dois séculos antes, uma massa imensa de cabelos ruivos espalhou-se pelo chão.
A visagem daquele olho azul espantou a todos.
O meu amigo, de cujo parente assistíamos a exumação adiantou-se até a borda do ataúde e explicou:
- A senhora. em determinado momento de sua vida tinha sofrido um acidente e, no lugar do olho vazado havia sido colocada uma prótese.
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