16 de ago. de 2017
Cata Ossinhos (8)
Era uma tarde chuvosa em Dezembro.
1981.
O passeio na bicicleta Peugeot de três marchas havia me levado para o entorno do Aeroporto Leite Lopes.
Naquela época era um espaço deserto, coberto da vegetação típica de cerrado.
Árvores baixas de lenho nodoso, muito mato, e pequenas trilhas que eram eventualmente utilizadas por catadores de lenha, caçadores de pássaros e um ou outro transeunte.
Havia já naquele tempo descarte de lixo e de materiais de construção margeando essas trilhas.
Em dado momento a chuva aumentou de intensidade. O claro intenso de um relâmpago prenunciou um trovão intenso, momento no qual ao olhar para a direita, onde a vegetação era mais rala foi possível visualizar a matilha.
Vários cães, de várias cores e porte vinham vencendo a distância pelo descampado sob a chuva forte, e vinham em minha direção.
Um uivo vibrante, intenso, hostil, reverberou logo após o som do trovão perder-se no horizonte.
Percebi naquele momento que eu estava em real perigo. Os cães passavam pela vegetação áspera, pelas pedras, pelas irregularidades do terreno como se esses obstáculos na existissem.
Sem mais vagar imprimi velocidade à bicicleta, varando poças de água e lama, com o veículo derrapando. sSe levasse um tombo, estaria irremediavelmente perdido.
Em um momento, outro uivo que perdeu-se no ruído da chuva, agora muito mais intensa.
A trilha que eu estava terminava junto a cerca do perímetro da pista o que obrigou-me a virar para a esquerda, o que fiz em velocidade, somente não caindo ao solo por haver sustentado com presteza o veículo com o apoio dos pés.
Mais velocidade, outro uivo, outro relâmpago, outro trovão, mais chuva, e finalmente logo à frente o asfalto da pista simples da avenida hoje chamada de Thomaz Alberto Whatelly.
Mais água, mais lama, mais uma valeta inundada e, finalmente, o piso asfáltico.
Lá eu poderia imprimir mais velocidade ao veículo pode afastar-me com mais ligeireza daqueles vultos, entrevistos dentro da chuva, da claridade baça ao final do dia chuvoso.
O veículo passou a rodar com mais velocidade sobre o piso regular. Mais um uivo. Uma prece contida no peito.
Mais água. Um uivo. Um último uivo. Ameaçador, lançando pavor e tristeza em minha alma, no coração aflito.
Ousei olhar rapidamente para trás por sobre o ombro direito.
Nada mais vi!
A via pública havia funcionado com um limiar, como uma divisão entre dois mundos.
Continuei a imprimir velocidade à bicicleta por mais alguns instantes.
Aliviado percebi que não era mais perseguido por uma matilha de cães esquálidos, sujos, espectrais. por entre o capim as árvores molhados de chuva.
Continuei o meu caminho. Ainda estava assustado mas aliviado.
Lá no horizonte no Oeste, nos minutos do Ocaso, era possível perceber alguma claridade sob as nuvens escuras.
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