Ao entardecer, sob as sombras das árvores antigas, alguns afirmaram tê-lo visto.
Outros jamais perceberam qualquer coisa.
No mundo veloz, de sensações fugazes e de extroversão, os sentimentos e a poesia estão relegados aos escombros e a poeira.
E o que aqueles que viram, afirmaram ter visto?
Um menino pequeno, loiro, oito, nove anos, mas com uma característica na qual todos concordavam.
A questão de sua roupa.
Eram roupas de uma outra época, talvez de meio século atrás.
Calções no joelho, suspensórios, camisa listrada e sapatos de duas cores.
Aqueles que o viram disseram que no entremeio entre as sombras das árvores ao chegarem na esquina, após uma rápida olhada para a mão do trânsito, já não o viam mais.
Curioso.
Quando os indivíduos estavam juntos, por vezes teciam um comentário exclamando o fato.
Quando o passante estava só, guardava para si a impressão. Às vezes relatava a passagem com a mulher, o marido, algum amigo.
E mais uma porção de Tempo se esvaiu.
Uma lenda urbana, uma ilusão visual.
Um dia, em seus afazeres de liberar espaço em uma estante de livros, Ernesto encontrou em uma caixa de papelão vários recortes de jornais antigos.
Manuseou-os e, entre as reportagens encontrou uma que referia-se a morte de um menino.
Ele havia morrido após uma queda de trinta metros em uma pedreira localizada na Rua João Penteado, na primeira metade da década de 1960.
O mundo veloz, insensível, extrovertido não deixa espaço para o sentimento, a introspecção, a poesia.
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