- Lobisomem?
- Sim, um lobisomem.
- Lá naquela casinha, nos fundos da fábrica de refrigerantes, perto da caldeira.
A caldeira ainda exalava calor.
Durante todo o dia houve muita atividade, mas agora, ao anoitecer, outros ocupavam o espaço.
- É meio difícil de acreditar nisso. Você o viu?
- Não, não o vi, mas entre os odores das essências, da lenha queimando, do vapor, do melado no tacho para esfriar, entre os sacos de açúcar e as garrafas limpas e suja, senti o seu cheiro. Um cheio acre, putrefato, de coisas não vivas, mesmo que não mortas.
Um cheiro de passagem do Tempo, de monturos, de fossas, de coisas velhas e rançosas.
As lâmpadas lá do fundo, entre o barracão e o rio foram acesas, provavelmente pelo Seu Zé, o guarda noturno.
Sim, lá vinha ele, empunhando o Smith Wesson calibre 32. Vinha pálido, ofegante.
- Não vão lá para baixo - disse. Por não poder passar pelo rio para atingir outra freguesia, ele ficará por aqui mesmo na fábrica e nos terrenos do entorno. Aqui, você sabem, é uma ilha. E o único caminho de saída é lá pelo beco da Dona Mercedes. Vamos para o escritório tomar um café junto com o Seu G_ e esperar que ele passe e vá embora. Retornará somente de madrugada, após visitar as sete freguesias de sua penitência.
E, dentro da noite, ouvimos,e sentimos o cheiro pestilento entre os acordes dos uivos dos cães ao longe.
- Agora vocês podem ir, mas apressem-se. Evitem a Ponte do Gelo e não fiquem rente os muros do frigorífico.
Amanhã será outro dia, e amanhã será outra noite.
Ao tirar as munições do bolso, foi possível perceber que os projeteis brilhavam bastante. Eram de prata.
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